A Princesa, a Rainha e os 127
- abelezadapalavra
- 6 de dez. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de jan. de 2023
E foi a vida de Sarah cem anos e vinte anos e sete anos, foi a vida de Sarah. | Gn 23:1
E sucedeu que nos dias de Achashverosh (Assuero), o Achashverosh (Assuero) que reinou desde Hodú (Índia) até Kush (Etiópia), sobre cento e cinte e sete províncias | Et 1:1
Os versos acima mostram um número de ocorrência ímpar na Escritura: 127. Ele aparece apenas dentro desses dois contextos: os anos de vida de Sarah e o número de províncias sobre as quais Ester (e seu marido, o rei Achashverosh [Assuero] reinaram.
A descrição dos anos de Sarah pode parecer estranha, porém é exatamente dessa forma que o texto hebraico está escrito: são 3 conjuntos de anos: 100, 20 e 7. Somados, perfazem os 127 anos de vida. Isso pode nos mostrar que Sarah viveu três grandes e diferentes etapas em sua existência, e também nos aponta significados maiores, onde devemos buscar entendimento acerca de cada número isoladamente.
A última fase da vida de Sarah, por exemplo, corresponde ao número 7, um valor que revela plenitude e um ciclo de tempo completo. Ou seja, Sarah viveu seus últimos anos em perfeita harmonia, em plenitude espiritual, completando seus dias no tempo perfeito que YHWH lhe dera.
Em Ester, o 127 não significa mais uma expressão de tempo, mas de espaço: ela reinou sobre um território enorme, de 127 províncias, que se estendia por diversos territórios.
Sendo o 127 tão significativo na Escritura, aparecendo apenas junto a essas duas narrativas, podemos considerar que Ester – assim como Sarah – cumpriu sua missão em plenitude. Uma judia que vivia na diáspora, no exílio de sua terra, foi levantada por YHWH para a maior posição de poder que uma mulher poderia alcançar em todo o Império Persa: Rainha de nações. E, com essa posição, ela foi capaz de salvar milhares de judeus e dar novo rumo às suas vidas.
Vale ainda lembrar que o 127 é matematicamente especial, pois é um número primo: ele é divisível apenas por 1 e por ele mesmo. Fazendo a leitura espiritual ou metafísica, compreendemos a força que há nele. Nada além do 1 (YHWH, o Álef) e dele próprio (o 127) pode dividi-lo. Se o 127 se mantiver fiel ao seu propósito, nenhuma outra força externa (número) pode quebrá-lo. E assim, o 1 (YHWH) o conduzirá ao seu destino, de forma íntegra, completa e plena, sem nenhuma ruptura.
Além desses incríveis aspectos, encontramos belos paralelos na história dessas grandes mulheres (veja quadro abaixo). O nome de ambas foi trocado: Sara deixaria de ser “minha princesa” (Sarai שרי), a “princesa de Adonai”, para ser apenas “princesa” (Sarah שרה); ou seja, estender sua nobreza sobre muitos outros, gerando os descendentes do povo do Altíssimo.
Ester אסתר mantém a essência espiritual de seu antigo nome – Hadassah הדסה (murta) – sobre seu caráter. Porém, recebe esse novo nome que funcionaria como um grande paradoxo para persas, de um lado; e judeus, de outro. [Para compreender todos esses aspectos, assista o vídeo relacionado].

O quadro acima mostra que Adonai manifesta-se de forma oposta na vida de cada uma delas. Sarah, ao lado de Avraham (Abraão), estivera junto a três homens que, de fato, eram mensageiros celestiais (malachim), sendo que um destes é apresentado como o próprio YHWH (Bereshit/Gênesis 18). Dele, receberam a profecia de que seu filho, Yitschak (Isaque) – o filho da promessa – nasceria dentro de um ano. Por outro lado, a narrativa de Ester oculta por completo o agir e o nome de YHWH, sendo o único livro da Escritura onde não há menção (literal) a Deus, seja na forma de algum título (Elohim, Adonai dos Exércitos, El Shadai, etc) ou de seu próprio nome (יהוה YHWH). Sabemos, no entanto, que isso é apenas na leitura simples e literal (Pshat), pois o Tetragrama יהוה aparece por diversas vezes. [Você pode checar todas elas neste estudo). E, além disso, é possível notar o agir de Adonai com muita clareza, em toda a história, conduzindo o plano de redenção para seu povo por meio de Ester.
De fato, o próprio nome Ester significa o ocultamento de YHWH!
E, entre outros paralelos mais, a tradição judaica também mostra dois fatos muito interessantes: além de Sarah e Ester estarem contadas entre as 7 profetizas do Tanach – respectivamente, a primeira e a última –, ambas figuram entre as mais belas mulheres.

Nesse ponto, também vemos aspectos opostos. A beleza de Sarah, mesmo em idade avançada, foi motivo de grande preocupação para Avraham, fazendo-o inclusive pecar, mentindo. Em duas de suas viagens – uma ao Egito e outra a Gerar – Avraham disse (e pediu a Sarah para confirmar) que ela era sua irmã e não sua esposa. Isso porque ele imaginava que seria morto pelos líderes dessas terras, depois de a tomarem para si mesmos. Na verdade, Sarah era meia-irmã de Avraham (por parte de pai) mas, isso não sobrepujava a realidade de eles serem um casal.
E, de forma oposta, a beleza de Ester foi decisiva para que sua missão fosse cumprida. Ela foi escolhida, junto a várias outras jovens, como uma possível candidata para o palácio. E, por sua beleza (ou, pelo menos, pelo grande carisma e atratividade que emanavam de si), Ester foi a escolhida por Achashverosh (Assuero) para ser sua rainha. Assim, a partir de sua posição no palácio, ela pode cumprir o grande plano de salvação de seu povo, colocado em seu coração e orquestrado por YHWH.

Vemos, assim, que essas duas mulheres, tendo vivido em épocas e situações tão diferentes, estiveram ligadas por um único número: o 127. Um número que ecoa nas dimensões do tempo (para os anos de vida de Sarah) e no espaço (nos territórios governados por Ester).
Mas, em ambas, mostra sua perfeição, revelando que ambas foram grandes instrumentos de Adonai, envolvendo milhares e milhares de vida – tempo e espaço afora –, trazendo luz e salvação!
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