והמן כזרע־גד הוא ועינו כעין הבדלח
E o man era como a semente de coentro e a sua cor era [branca] como a resina de goma. | Nm 11:7.
O foco da Parte 1 deste estudo estava na aparência do maná ser como a resina de goma (bdélio) e na sua distribuição em porções, ambas as perspectivas representadas pela palavra בדלח (bdolach). Nesta última parte, será abordada sua semelhança frente à semente de coentro, chamada em hebraico por גד (gad), exatamente o mesmo de uma das doze tribos de Israel. Isso nos impele a analisar a relação entre ambos.
Gad (Gade) é o 7º filho de Yakov (Jacó), e o primeiro dele com Zilpah (Zilpa), a serva de Leah (Lia) [Gn 30:11]. Tendo percebido que não mais gerava filhos, Leah sentiu-se afortunada com essa criança que acabara de nascer e, por essa razão, deu-lhe o nome de Gad, que significa boa sorte, fortuna.
Além disso, o termo גד (gad) está relacionado às tropas de um exército, um grupo organizado para lutar. E, não por acaso, essa será a marca dessa tribo, como veremos adiante.
Ambos os significados de גד (gad), apesar de tão distintos entre si, estão intimamente relacionados ao man (maná).
Quando Leah nomeia a criança, ela sentiu que foi abençoada, recebeu algo precioso dos céus, foi afortunada, sentiu-se feliz e recompensada. O maná, em sua semelhança à semente de gad (coentro), também representa todas essas coisas. O povo no deserto recebeu um presente vindo dos céus, foi afortunado por um alimento tão especial, capaz de suprir todas as suas necessidades em uma terra árida e infértil – o deserto –, exatamente como era naquele momento o útero de Leah.
Gad também está ligado ao aspecto militar, às tropas do exército, ao movimento de atacar, invadir. Esse sentido parece não ter nada em comum com o man (maná), porém o hebraico mostra uma relação direta entre ambos!
Então disse YHWH a Mosheh (Moisés): Eis que farei chover para vocês pão do céu. | Ex 16:4
ויאמר יהוה אל־משה הנני ממטיר לכם לחם מן־השמים
Man מָן é o nome que o povo deu a esse alimento, porém YHWH o chama por “pão do céu”:לחם מן־השמים (lechem min-hashamayim).
Aqui vale um parênteses para uma das belas pérolas dos textos hebraicos. Note as três palavras que existem nessa expressão e sua tradução literal:
לחם lechem (pão)
מן min (proveniente de)
השמים hashamayim (os céus)
Observe a palavra do meio: מן (min). Apesar do significado e pronúncia diferentes, ela é exatamente a mesma pela qual foi nomeado o מן man (maná)!
Mesmo sendo “man” um nome dado pelo povo, por não saber do que se tratava, (vide estudo anterior), essa mesma palavra se encontra na expressão que YHWH usa para definir o alimento que ele enviava!
A palavra לֶחֶם lechem (pão) é escrita exatamente como לָחַם lacham, verbo que significa guerrear, batalhar, lutar. De fato, ambas as palavras compartilham da mesma raiz (ל-ח-ם).
Assim, inferimos que o pão é resultado da luta, da batalha diária pela sobrevivência. Após pecar, YHWH disse a Adam (Adão): “Do suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gn 3:19). A partir desse momento, o homem precisaria aplicar seu trabalho e esforço à terra a fim de que ela pudesse sustentá-lo.
No entanto, o man (maná) não é apenas lechem, pão. Ou, melhor dizendo, não é pão da terra, mas pão dos céus! E por essa razão, ele não é tirado da terra, mas recebido como chuva, como bênção, diretamente do Alto. O homem não precisaria derramar seu suor sobre a terra para obter seu alimento, mas apenas colhê-lo e prepará-lo.
O povo, no deserto, foi afortunado (gad) em receber pão dos céus (lechem min-hashamayim), pois não precisaria lutar (lachem) por ele.
Assim, em todos os distintos e aparentemente desconexos significados de גד gad, encontramos sentidos profundos que se aplicam a esse misterioso alimento, semelhante à semente de gad (coentro)!
Vale ainda pontuar a idêntica abordagem que existe em relação a Yeshua ser o verdadeiro pão dos céus, aquele que nos é dado de forma gratuita e amorosa pelo Pai, o único que pode realmente vencer nossa maior fome: a que temos pela vida eterna!
Os exércitos de Gad
Como já foi dito, גד (gad) está associado também às tropas de combate, às atividades militares de avanço e defesa de território. E, naturalmente, tal fato está ligado à missão dos gaditas.
Com a conquista de Canaã, 10 tribos e meia cruzaram o Jordão e se assentaram ao oeste. Gad assentou-se a leste do rio, sem cruzá-lo. Essa posição, na fronteira da terra, foi estratégica para a defesa das demais tribos, permitindo que Gad exercesse sua função militar com muito maior propriedade. Tal missão está inclusive retratada em seu estandarte, com tendas militares.
imagem: Praise Banners
Esse papel militar foi predito por Yakov (Jacó), na bênção que ele deu a cada um de seus filhos, antes de morrer (Gn 49:19)
Gad (Gade), uma tropa o atacará/invadirá, mas ele a dominará ao calcanhar/final.
גד גדוד יגודנו והוא יגד עקב Gad gedud yegudenú vehú yagud akev
É interessante observar que, nesse pequeno texto de apenas 6 palavras, 4 delas compartilham a mesma raiz de גד (Gad):
Gad גד (o nome da tribo) gedud גדוד (tropa) yegudenú יגודנו (atacará) yagud יגד (dominará)
A última palavra do verso – עקב (akev) – é calcanhar, simbolizando também “o final, o resultado” dessa batalha. Essa utilização metafórica do termo alude ao calcanhar ser também a extremidade do corpo, a sua parte final.
A ocorrência de עקב (akev) conecta diretamente à primeira vitória predita na Torah (Gn 3:15). O Mashiach (a semente da mulher) seria ferido no calcanhar pela serpente, porém é também com seu calcanhar que ele pisa sobre sua cabeça, vencendo-a. Pelo calcanhar, ao fim, Gad também vence!
Um fato interessante é que o nome גד Gad tem guematria 7, sendo ele também o 7º filho de Yakov (Jacó).
A sétima letra do alfabeto (também de guematria 7) é ז (záyin). Záyin representa uma espada, uma coroa ou também um cetro. Todos esses símbolos estão diretamente relacionados à própria natureza do 7, que define um ciclo completo de tempo (seja em dias, semanas, anos ou eras).
Ao final, logo antes do início do 7º Milênio, a espada de Mashiach (a Palavra de YHWH) julgará a todos, e ele é entronizado como rei da terra, com suas muitas coroas e seu cetro de ferro. (Ap 19: 11-18)
E o patriarca Gad, sob a influência do número 7 em sua vida, também se manifestará como “tribo da espada” (militar), e aquele que vence ao final (coroa e cetro), conforme predito por seu pai. (Gn 49:19).
Gad: multiplicidade e unidade
Um outro ponto importante do aspecto militar é a sua grande quantidade de indivíduos
organizados em sintonia, como se fossem um só organismo. E aqui encontraremos outro paralelo fascinante com Gad!
Gad גד é formado pelas 3ª e 4ª letras do alfabeto (guímel e dálet). Invertendo sua ordem, obtemos outra palavra: דג (dag), peixe.
O peixe tem simbolismos diversos e marcantes nas Escrituras e na tradição judaica. Uma das principais características é que eles são animais que vivem predominantemente em cardumes, no meio da multiplicidade. A grande quantidade de indivíduos é sua força e defesa. São muitos, mas agem em uníssono, movimentam-se em perfeita harmonia, como se fossem um só.
O paralelo com Gad é óbvio! Pois é por meio de seus exércitos, da força de milhares de homens que agem sob uma só diretriz e propósito que Gad cumpre sua missão, atacando os inimigos e defendendo seu povo.
Gad גד é também peixe דג (dag).
E como peixe se move e leva a vitória para Israel!
Há ainda outro ponto de conexão que não pode passar em branco. Como visto anteriormente, um dos significados de גד (gad) é tropa de exército, estabelecendo íntima relação com as palavras לָחַם/lacham (guerrear) e לֶחֶם/lechem (pão, alimento), por meio do maná.
Dessa mesma raiz (לָחַם lacham) ainda surge no hebraico moderno a palavra הלחמה (halchamah), que significa solda, o processo que une duas ou mais partes metálicas, transformando-as em uma só.
Esse significado leva diretamente à perspectiva de Gad como dag (peixe), onde cada um de seus peixes/homens são como as partes dessa grande solda, gerando a força e unidade de tal cardume/exército.
Podemos ainda considerar que as escamas do peixe são brilhantes. De fato, possuem um brilho metálico, trazendo ainda mais realidade a esse paralelo!
Pela terceira vez fica evidente a associação da raiz (לחם/lacham) com Gad.
O termo דג (dag), peixe, provém do verbo דגה (dagah), que justamente expressa abundância, multiplicidade. Portanto, a essência desse animal é exatamente a sua numerosidade.
Outra palavra proveniente da mesma raiz é דגן (dagan), que significa grãos, cereais, milho, pelo fato da sua própria natureza ser coletiva, numerosa.
Esse termo é usado por muitas vezes nas Escrituras, até mesmo pelo fato dos grãos serem uma das mais importantes fontes de alimento. E, dentre elas, uma chama a atenção:
E fez chover sobre eles maná para comerem, e deu-lhes do trigo dos céus. | Sl 78:24
וימטר עליהם מן לאכל ודגן־שמים נתן למו
Aqui, o escritor do Salmo retrata o man como trigo dos céus. Uma expressão da fartura, multiplicidade, não apenas dos "grãos de maná" que desciam com o orvalho, mas também do próprio amor de YHWH para com seu povo!
E assim, nas letras דג dálet e guímel, que formam tanto dag/peixe quanto Gad, encontramos a mesma essência: a multiplicidade de indivíduos (sejam peixes, grãos ou pessoas), formando uma única frente (um cardume, o maná, um exército).
"Semente de peixe"
Voltando ao texto inicial, lemos que o maná era "como semente de coentro" (כזרע־גד kizera-gad). O termo זרע zera (semente) é aplicado nas Escrituras para o reino vegetal, animal e também para o próprio ser humano, apontando para sua descendência (o resultado da semente bem-sucedida).
Nesse texto, como vimos até então, existe respaldo para interpretar זרע zera (semente) associada ao:
• reino vegetal (semente de coentro) | nível pshat/literal
• humanos (descendência de Gad, na figura de suas tropas, multiplicidade e organização de pessoas como grãos juntos) | nível remez/interpretativo
Será que esse verso comportaria também uma leitura relacionada ao mundo animal? Vamos avaliar.
Se גד gad é דג dag (inversão de letras), mesma guematria, leremos o texto sob essa luz:
E o man era como a “semente de dag (peixe)”, e a sua aparência como a resina de goma.
והמן כזרע־דג הוא ועינו כעין הבדלח
Existe, de forma física e literal, alguma verdade nessa sentença?
Surpreendentemente, sim!
sementes de coentro (zera-gad) e ovas de peixes
É notória a semelhança das sementes de coentro (portanto, do maná) com o que podemos considerar por "semente dos peixes", ou seja, suas ovas. Brancas, peroladas ou em tons que vão do amarelo ao alaranjado em certas espécies. Pequenos grãos redondos que são desovados em enormes quantidades por cada indivíduo, das centenas aos milhares. De fato, os peixes são considerados dos animais mais férteis da natureza, que mais se multiplicam! Exatamente como é a essência de dagan (os grãos de cereais). Exatamente como os "grãos" do maná.
Assim, essa sugestiva leitura – onde apenas duas letras se invertem em um texto, mantendo sua total integridade guemátrica – revela perspectivas tão fascinantes como o próprio maná!
E nessa profusão de conexões que o hebraico e a própria natureza revelam, descobrimos que a semente de coentro, a tribo de Gad, o pão, a batalha, os exércitos, os peixes, as suas ovas e toda essa multiplicidade e unidade de propósito estão intimamente relacionadas ao alimento mais sobrenatural que os seres humanos já comeram: o man!
imagem: jw.org
um estudo rico e profundo que alimenta nossa fome e fortalece nossa fé na pessoa bendita de nosso senhor e salvador jesus cristo
Tudo apontando pra aquele que viria ?
Shalom Paula querida....
As conexões feitas totalmente descreve nosso Criador e suas equações. Pois como o natural faria tudo isso, como a ciência por si só definiria todo este conhecimento. Assim a ciência tem seu papel, e mais ainda de ratificar o poder do Pai. E analisando pelo "man", o Eterno deu de forma gratuita e de fartura; Yeshua também nos resgata e regenera pela Sua graça redentora e sem nenhum mérito do homem. E ainda faz em abundância. Baruch HaShem por sua vida em nos trazer estás Pérolas😊
Shalom
Interessante essa amarração das palavras como a rima de versos, dando sentido a engenharia de ADONAI, por outro lado como bom cearence que adoro um prato típico e muito saboroso chamado de peixada, que tem como elementos o peixe e o coentro cozido no leite de côco, nutritivo de fácil digestão, o maná do sertão.
Interessante foi, ao meditar no texto, e lembrar da gratuidade do PÃO DO CÉU, a murmuração do povo por carne. Fato que irritou ao Criador (a murmuração).