“Desde a criação do mundo nunca se ouviu que um homem abrisse os olhos de quem nasceu cego.” (Jo 9:32)
O capítulo 9 de Yochanan (João) narra um fato nunca antes presenciado na terra. Tal milagre, naturalmente, só poderia ocorrer pela intervenção divina, por meio de alguém enviado pelo Altíssimo. E foi assim que aconteceu essa cura inédita, levando o homem que era cego a reconhecer em Yeshua um profeta. (Jo 9:17).
E, como profeta, como o enviado de YHWH, Yeshua curava a muitos. Fazia uso de modos diversos:
pelo toque (Lc 4:40, Mc 6:5, Mt 20:34, Lc 13:13),
por sua palavra (Mt 9:6, Jo 5:8-9, Mc 9:25),
por sua saliva (Mc 8:22-26),
por estes três anteriores juntos (Mc 7:33-35),
por meio do poder que emanava de si através de seus tsitiot (franjas da veste) (Mt 9:20-22, Mt 14:35-36, Lc 6:19).
estando presente com os enfermos ou mesmo longe deles (Jo 4:50-53, Mt 8:13, Mt 15:28).
Na cura do homem cego de nascença, Yeshua se vale ainda de algo mais. Ele mistura sua saliva com a terra, passa nos olhos do homem e pede para que ele se lave na piscina/tanque de שֶּׁלִח Shiloach (Siloé) – palavra cujo significado representa exatamente aquilo que Yeshua é: (o) Enviado.
Não é difícil perceber o sentido do que o Messias fez aqui. O ser humano foi criado do pó da terra e seria preciso que essa terra estivesse molhada, misturada à água (mesmo que em nível metafórico), para que pudesse “ser modelada” em um corpo, como define Gn 2:7 (“E modelou” (וייצר) o homem do pó da terra). Da mesma maneira fez o Seu Filho, “recriando” os olhos daquele homem, modelando o barro que fez com sua saliva.
Não há como saber se esse homem havia nascido com a falta parcial de alguma estrutura ocular (íris, nervo ótico, etc) ou alguma outra irregularidade que causasse a cegueira.
O fato, porém, é que a ação de Yeshua retrata o paralelo da criação, mostrando ser ele a Palavra Viva de YHWH, o Verbo, o meio pelo qual tudo veio à existência.
Depois, limpando o barro nas águas do próprio Enviado (Shiloach), o homem passa a enxergar. E, mais do que receber a visão biológica, esses olhos contemplam a realidade espiritual, discernindo Yeshua como o Filho do Homem, o Enviado do Altíssimo (Jo 9:35-38). Algo, infelizmente, que não era visível a outros, mesmo que possuíssem a visão.
3 Elementos, 3 Expressões Messiânicas, 3 Perspectivas
Um fato interessantíssimo nessa narrativa é que a cura do homem envolve três elementos (TERRA, ÁGUA e LUZ). Todos eles estão intrinsecamente relacionados aos olhos.
Como partes do corpo humano, os olhos são formados do PÓ DA TERRA. Modelados no barro. Biologicamente, são compostos por mais de 90% de ÁGUA ou elementos de densidade aquosa. Tal condição de transparência permite que a LUZ penetre por eles, até alcançar o cérebro, onde esses impulsos elétricos são transformados em imagens.
E ainda mais: cada um desses três elementos será visto associado a uma das três expressões messiânicas que aparecem nessa história! Vamos analisar a perspectiva de cada uma delas.
O Messias da TERRA
A terra simboliza aqui o elemento fundamental de onde os olhos foram formados (Gn 2:7). Yeshua utiliza o pó da terra, misturado à sua saliva, para formar o barro, “modelando” olhos perfeitos e saudáveis para aquele homem.
Encontramos a conexão do Messias com a terra ao final da história, quando o Mestre se apresenta ao curado como בן האדם “ben ha’adam”, o Filho do Homem. Uma expressão que remonta à natureza humana e à sua origem ligada à terra; uma vez que אדם “adam” (ser humano/homem) provém de אדמה “adamah” (terra).
Apesar de parecer uma expressão de menor nobreza espiritual, “Filho do Homem” aponta para a majestade do Messias. É o termo utilizado em Dn 7, quando o profeta têm uma visão mostrando Aquele que vinha sobre as nuvens do céus, a quem YHWH havia dado domínio eterno e pleno.
Esta expressão, fartamente utilizada por Yeshua para denominar a si próprio, mostrava sua humildade perante o Altíssimo, porém ainda aquele que “corporalmente recebeu a plenitude da divindade” (Col 2:9).
O Messias da ÁGUA
A água aparece em dois momentos: primeiramente na saliva de Yeshua e depois no tanque de Shiloach.
Na época de Yeshua, era comum entre os judeus crer que a saliva de um primogênito pudesse curar. Tal fato remonta à tradição oral, vindo depois a constar no Talmud (Bava Batra 126b). O texto em questão retrata alguns sábios argumentando sobre como se certificar da primogenitura de um filho, uma vez que sua herança equivaleria à parte dobrada dos demais (Dt 21:17). E uma das possibilidades levantadas é a evidência da saliva curativa. Pois unicamente o primogênito de um pai poderia curar por meio da sua saliva. Isso não aconteceria no caso de um primogênito que fosse apenas da mãe.
Assim, curando o cego com sua saliva, Yeshua fazia alusão a essa conhecida tradição, dizendo sem quaisquer palavras, que ele era o primogênito. Não um primogênito comum (pois nunca qualquer primogênito tivera curado um cego de nascença), mas alguém que ia muito além disso: o unigênito do Pai Altíssimo.
Após ter passado a mistura de saliva e terra nos olhos do homem, Yeshua ainda pede que ele se lave no tanque de Shiloach (Siloé). A mensagem aqui, novamente, é dita sem palavras: “as águas do ENVIADO (Shiloach) completarão sua cura”.
Um outro fato importante é que a palavra שלח (Shiloach) está intimamente relacionada à שילה (Shiloh), “Siló” em português. E, de acordo com a interpretação judaica (Midrash Mishlei), Shiloh é reconhecido como um dos sete nomes do Ungido!
Portanto, a figura do Messias se manifesta através da água de diversas formas. Na saliva, observamos sua descendência celestial: o Primogênito/Unigênito do Pai de todos. E, em Shiloach, Yeshua anuncia que era O Enviado de YHWH, o profeta prometido por Mosheh (Dt 18:15, Sl 2:6). E ainda, Aquele a quem o cetro eterno pertence, SHILOH (Gn 49:10).
O Messias da LUZ
Imediatamente antes de fazer a cura desse homem, Yeshua se anuncia como a “Luz do Mundo” (Jo 9:5). Ou seja, aquele que veio não apenas trazer luz para os olhos do cego, mas também iluminar a alma de todos.
Investigando o hebraico, encontramos a grandeza do que Yeshua falou!
Os termos אור העולם (or ha’olam) têm guematria de 358 (1+6+200+5+70+6+30+40). E este é exatamente o mesmo valor de משיח (mashiach) ungido (40+300+10+8). Ao se anunciar como a "Luz do Mundo”, Yeshua também revela quem ele é, tanto em palavras quanto em números!
Em resumo, podemos enxergar as seguintes conexões:
• TERRA | בן–האדם (ben ha’adam) “Filho do Homem”, também um homem feito da própria terra | Expressão da majestade do Filho do Ancião de Dias
• ÁGUA | שלח (Shiloach) “O Enviado” / שילה (Shiloh) um dos nomes do Messias
• LUZ | אור העולם (Or ha’olam) “Luz do Mundo” | mesma guematria de “Mashiach” (358)
Assim, TERRA, ÁGUA e LUZ se unem nessa narrativa que tem como fio condutor os olhos. Cada um desses elementos aponta para uma expressão do Messias, aquele que fez o que ninguém na terra nunca antes tivera feito: curar um cego de nascença.
Fecharemos este estudo na próxima postagem, com a abordagem da guematria e outras descobertas reveladoras!
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Os cegos foram curados no físico e no espírito e os que viam cegaram-se no espírito e na alma.
Em meus Shabats, sempre medito também em seus estudos. São profundos e fantásticos. Baruch Hashem por sua vida! I love youuuu...
Que estudo maravilhoso, Morah! Esse texto é riquíssimo. Sou Terapeuta Integrativa e trabalho com o método de ressignificação (neuroplasticidade). Nessa cura, Yeshua ressignificou o cuspe que causava ainda mais dor e sofrimento ao cego, pois muitos hipócritas, crendo que o cego era um pecador, cuspiam ao lado dele. Yeshua poderia ter pego um pouco de saliva com sua mão e o levado a terra. Contudo, ele cuspiu ao lado do cego para formar o barro. Ou seja: Yeshua ressignificou os cuspes, dando um novo sentido, formando um novo caminho neural no cérebro do cego, com o cuspe que o curou. Ele é maravilhoso!!!!!!!!
Os olhos são a janela da alma, fato! Yeshua dá luz não só aos olhos, mas à alma também.
Essa Luz tem brilhado em minha vida.
A Palavra de Deus é maravilhosa!!!
Tive um encontro com o Espírito dessa Palavra.
O cego, além de tudo o que já foi mencionado, representa também aqueles que estão presos na religião sem Deus.
E quando é curado o mesmo é confrontado pelos religiosos e é espulso de sinagoga..
Só depois Jesus Cristo se apresenta a ele como o Cristo de Deus.
Assim somos nós na religião sem Deus. Vivemos em trevas mas se Cristo te liberar da escuridão nunca mais terá intermediários entre você e Deus.