Majoritariamente traduzida por “lei” ou também conhecida por“Pentateuco” (termo aportuguesado de origem grega, que significa “cinco partes ou livros”), a תּוֹרָה Torah é bem mais do que isso. A origem da palavra hebraica provém do verbo יָרָה yarah, que significa lançar, atirar (uma flecha, por exemplo), apontar, ensinar, direcionar, instruir. Em toda essa abrangência o objetivo é um só: atingir o alvo.
Assim, uma tradução mais completa e significativa para תּוֹרָה Torah seria instrução, direção. Ela constitui um manual de vida, de conduta, para o ser humano perante seu Criador e perante o próximo. De fato, essa instrução é calcada em leis, pois nenhum reino subsiste sem ordem, e a Torah é o regulamento para o Reino de YHWH.
Existem 3 classificações para essas leis/mandamentos:
1. Mishpatim מִשְׁפָּטִים (julgamentos): promovem o equilíbrio da vida em sociedade, apontam o certo e errado.
2. Edut עֵדוּת (testemunhos): são aqueles que dão testemunho de YHWH, tais como: memoriais (as celebrações bíblicas, por exemplo) ou atos de fé.
3. Chukim חֻקִּים (decretos): não possuem um componente racional e, até mesmo por essa razão, podemos compreendê-los como leis intimamente relacionadas à realidade espiritual.
Apesar de ser uma “manual prático de conduta”, a Torah não tem suas raízes nesse mundo, e mesmo as suas mitsvot (mandamentos) mais inteligíveis para nós são como que apenas a parte visível e material de algo muito mais sublime e superior.
Muito além do que instrução para o ser humano, a Torah contém e apresenta leis sob as quais os mundos foram criados e subsistem. E aqui estamos tratando tanto das leis naturais, como a ação dos astros, do tempo, das águas acima e abaixo, dos fenômenos físicos de geração e crescimento (entre tantos outros), quanto das leis que regem a interação dos seres: amor, doação, justiça, compaixão, etc.
Todos esses aspectos que revelam a transcendência e eternidade da Torah podem ser vistos sob diversos ângulos; alguns deles, inclusive, matematicamente, como não poderia deixar de ser!
A natureza numérica da Torah
Primeiramente, o mais simples de todos: a palavra תּוֹרָה Torah possui guematria de 611, cuja redução é 8 (6+1+1).
Para compreender o 8, o ideal é conhecer os aspectos dos seus antecessores.
O número 6 está ligado ao plano físico, material e denso. A criação foi terminada em 6 dias.
Já o 7 é uma fagulha espiritual que é acrescentada à materialidade do 6. Na semana, 6 dias são comuns, para o trabalho/mundo, e o 7º é para o Shabat/descanso/conexão com o espiritual. O 7 é a revelação do espiritual no plano físico.
E o 8, por consequência, é a transcendência dessa realidade. Já não há mais o tempo-espaço do 7, mas o recomeço de um ciclo em nível superior, atemporal e eterno.
Uma vez que a Torah tem sua raiz no 8, revela-se em sua natureza aquilo que é eterno, imutável e está além dos aspectos físicos ou restritos ao tempo.
Outras palavras importantes com redução para 8 são os nomes de Yeshua e o próprio nome de YHWH, o chamado Tetragrama.
Palavras dentro da palavra
Em nível mais avançado podemos olhar para a Torah como um conjunto de 5 letras, cada uma representativa de seu próprio livro. E estas são, naturalmente, as líderes, as letras iniciais de cada um deles.
Esse conjunto de letras vai mostrar a formação de algumas palavras, que podem trazer grandes revelações sobre a Torah.
As duas primeiras palavras descritas abaixo são exatamente o centro dessas letras, o seu coração. Assim, podemos entendê-las também como o centro da Torah, nessa configuração.
O termo inicial é encontrado na leitura da direita para a esquerda, a qual também é a mesma do hebraico. Nesse movimento existe um componente de misericórdia e doação, pois o lado direito está associdado a esses conceitos. Já a outra palavra tem o sentido inverso, sendo lida da esquerda para a direita. E, nesse caso, está associada ao outro prato da balança: o julgamento, a severidade.
1. SHUV שוב (verbo) | Significa: retornar, responder
Este é o alvo, aquilo que está bem ao centro da Torah. Mostra a rota para que a flecha atirada alcance seu objetivo, como dito anteriormente.
O verbo shuv dá origem à famosa palavra תְּשׁוּבָה teshuvah, que denota o processo de arrependimento de pecados e correção do caminhar/atitudes a fim de que alguém retorne às veredas de Adonai, acertando o alvo. Essa foi a principal mensagem de Yeshua e de todos os demais profetas. De fato, o próprio Messias inicia sua missão na terra dizendo: “Arrependei-vos (…)” (Mt 4:17).
2. BUSH בוש (verbo) | Significa: empalidecer, envergonhar, ser desapontado, atrasado
A precisão do hebraico na relação entre o primeiro e este segundo termo é como uma lâmina afiada! Notem: as mesmas letras de SHUV שוב (retornar), colocadas de forma inversa, vão apresentar também o outro lado da moeda! Se SHUV שוב (retornar) é o caminho pelo amor e pela graça (direita para esquerda), BUSH בוש representa as consequências, o julgamento de não se seguir esse caminho (esquerda para direita).
A falta de arrependimento e a permanência no pecado fará com que essa pessoa empalideça, se envergonhe perante seu Criador no dia do julgamento. Nesse momento, ao enxergar a realidade das coisas verá que desapontou o Altíssimo, jogando fora as oportunidades que lhe foram dadas para retornar (SHUV שוב). Porém ela já estará atrasada, não haverá mais tempo ou ocasião para retratar-se com aqueles perante os quais errou ou alcançar a misericórdia pelos seus pecados.
3. DUSH [ou ainda DISH ou DOSH] דוש (verbo) | Significa: debulhar, pisotear, trilhar, malhar
Esse termo é utilizado nas Escrituras tanto no sentido literal quanto metafórico. O primeiro está associado ao processo de cultivo e colheita: debulhar, trilhar para obter os grãos, conforme consta em Dt 25:4, Lv 26:5, Is 28:27-28, 1 Cr 21:20. O segundo normalmente é aplicado como uma ação de julgamento de YHWH às nações que afligiram Israel (Hc 3:12, Mq 4:13, Am 1:3, Is 41:15).
Nessas duas abordagens é possível observar o ensino que esse remez (dica) oferece. Em sentido positivo é necessário que nós também precisemos “debulhar” a Torah para obter seu alimento. A leitura superficial ou descompromissada não vai nos permitir acessar a riqueza nutricional dos seus grãos. Mas a busca e o trabalho de esmiuçar seus textos vai nos permitir alcançar um entendimento mais próximo de sua natureza celestial. Conseguiremos nos alimentar espiritualmente de fato!
Por outro lado, aqueles que “pisam”, “trilham” sobre a instrução do Altíssimo, sem intentar uma mudança de rota, estão fadados a também serem trilhados pelo próprio Deus, como, por exemplo, declara Chavaquq (Habacuque) 3:12:
Na tua indignação, marchas pela terra; na tua ira, calca aos pés/pisa תָּדוּשׁ (tadush) as nações.
ou Yeshayahu (Isaías) 25:10:
Porque descansará a mão de YHWH neste monte, mas Moabe וְנָדוֹשׁ será trilhado (nadosh) no seu lugar, como se pisa a palha na água כְּהִדּוּשׁ (kehidush) da casa da esterqueira.
4. DEVASH דבש (substantivo) | Significa: mel
Uma última e linda palavra que está embutida nessa formação de letras é devash דְּבַשׁ, mel. Presente em muitos momentos das Escrituras, o mel faz referência a tudo aquilo que é doce, agradável, energético e promove cura. A própria Torah, na figura de seus mishpatim (julgamentos) é comparada ao mel em Sl 19:10.
Muitos outros textos fazem alusão a esse manjar como fonte de fartura e delícias:
• A promessa de YHWH é fazer seu povo morar em uma terra que mana leite e mel, onde há fartura física e espiritual | Ex 3:8, 33:3, Lv 20:24, Nm 13:27, Dt 6:3, etc
• Yechezkiel (Ezequiel) e Yochanan (João) comeram rolos escritos que lhe foram doces à boca como mel. | Ez 3:3, Ap 10:10
• Os lábios da esposa celestial vertem mel, pois há leite e mel sob sua língua (palavras). | Ct 4:11
Assim, esse último termo – דְּבַשׁ (devash) – parece conectar-se ao primeiro, שוב (shuv), retornar, pois quando seguimos pelo caminho correto, quando respondemos “sim” ao Altíssimo, Sua Instrução será nossa luz, fonte de alegria e shalom, o verdadeiro mel em nossas vidas!
Finalizando essa abordagem, podemos dizer que essas 4 palavras (um número que aponta a firmeza e solidez), todas com 3 letras cada, revelam e norteiam com muita clareza o caminho de YHWH; o rumo que devemos traçar e seguir para atingir o alvo. Exatamente como nos ensinou aquele que é a Torah Viva, nosso mestre e redentor Yeshua haMashiach.
Torah, o número transcendente
Além de todas essas mensagens e perfeição de seu ensino, existe um outro nível ainda mais profundo, onde a Torah se revela em sua natureza: transcendental.
Utilizando o mesmo conjunto de letras, façamos sua guematria.
Aqueles que conhecem um pouco de matemática já devem ter compreendido a grandeza desse resultado! O número 314 pode ser visto como a representação do número π (pi), que é normalmente escrito em sua forma reduzida de 3,14. E este é um dos números mais especiais que existem!
Vamos compreender um pouco sobre ele.
Pi representa uma equação: o perímetro de uma circunferência dividido pelo seu diâmetro. Seja qual for o tamanho desse círculo, o resultado será sempre a constante Pi π.
Pi é um número infinito. É impossível conhecer todas as suas casas decimas. Porém, o último cálculo mencionado já alcançou fenomenais 100 trilhões de algarismos! (Junho/2022, Fonte: Google Cloud, https://cloud.google.com/blog/products/compute/calculating-100-trillion-digits-of-pi-on-google-cloud)
Pi está também presente de forma extensiva na arquitetura da natureza, sendo ainda utilizado em muitas fórmulas para o cálculo de ondas oceânicas, sonoras e eletromagnéticas, formação de listras e pintas em animais, probabilidades matemáticas e muito mais.
Além disso, um fato curioso é que o Pi recebe uma classificação peculiar entre os números: a de número transcendente. A explicação desse conceito é bastante complexa e não se faz necessária para este estudo. A intenção é apenas trazer ao conhecimento o nome de sua categoria, que mesmo associada exclusivamente a conceitos matemáticos, surpreende por fazer total sentido com o tema que estamos tratando!
Retomamos agora o conceito da Torah – nas letras בשובד – ser equivalente ao número Pi.
Quando olhamos para a representação gráfica dessa constante, podemos também enxergar a própria natureza infinita da Torah! Vejam o paralelo:
A Torah, a Instrução Divina, é o círculo, a forma perfeita onde não há começo nem fim, é a própria Aliança de YHWH com o ser humano.
Cada um de seus versos é como uma linha, o diâmetro desse grande círculo.
Considerando seu idioma original, o hebraico, e todos os níveis que ele oferece, percebemos que ao estudar cada verso dentro do contexto completo e perfeito da Torah, o resultado final é π Pi, ou seja, uma constante infinita, uma revelação que não tem limites!
O diâmetro está para o perímetro da circunferência assim como o verso está para a Torah.
Não bastasse essa linda equação, que une e atesta a veracidade da natureza sublime e infinita da Torah, podemos ainda somar os números de Pi, assim como fizemos com as letras iniciais de cada livro. E, não por acaso, encontraremos exatamente o mesmo resultado: 8!
π Pi (3,14) = 3 + 1 + 4 = 8
Assim, percebemos que todas as abordagens levam ao mesmo lugar, à mesma mensagem. Seja na guematria simples da palavra Torah (611), seja na soma das letras iniciais dos seus livros (314), seja na própria representação gráfica da equação de π Pi.
Prometo que este é o último comentário! Já que falei tudo isso, falarei o que mais me incomoda. A HERESIA de quem ensina a Kabalah e coloca medo nas pessoas falando de PECADO, condenações baseadas naquelas leis ao pé da letra, falando de perigo ao invocar os seres das outras esferas, qual perigo? Quem ensina essas coisas, impede a evolução e a sabedoria dos 72 nomes divinos. Quem te diz que o diabo quer te matar, te engana e muuuuuito! Quem quiser percorrer o caminho da Serpente, vai entrar no portal do espelho e encontrar o Diabo e só vai passar por ele, se o amar sem medo, sem preconceitos ou qualquer tipo de restrição quanto a sua aparência e…
Há tantos segredos nestes números, mas quando consegui entender muitos dos significados, percebi que continuaria em segredo. Só que a humanidade PRECISA evoluir, está demorando demais e descobrir o que SOMOS, ECHAD! Acredito que essa demora na evolução é causada pelas guerras entre as crenças e domínio de Terras. (Fato que eu não me importo mais, não há maldade no mundo!) O plano de sobrar só a lei de um povo é cruel e medíocre na visão do nada (Adan), o Homem, mas é o único caminho. No final quem eles são, se descobrem em todas as partes do planeta. Alguns estão despertando sem nunca terem lido uma só palavra da Torah, evolução das vidas passadas. Vejo o mundo como…
Tudo isso é maravilhoso e eu estudo a Torah e a Kabalah há quase 10 anos, nunca consegui compreender o porquê dos rituais mágicos serem tão escondidos da população geral e pouco divulgado. O risco dos rituais é a morte, mas o sucesso também. Passei por uma experiência que é impossível de detalhar em palavras, há falta delas para descrever tanta felicidade e solidão ao mesmo tempo. Paguei um preço bem alto por decidir estar agora, mas valeu a pena saber quem sou Eu.
Simplesmente maravilhoso e profundo, professora Paula.
Quem é como Deus !? 😱